quinta-feira, maio 07, 2009

Diários de estetoscópio - relatos do meu mundo cão

Há dias em nossas vidas que são muito peculiares.
Eu poderia afirmar que ontem foi um desses dias...

Começou pela manhã (ah sim, até onde sei, é por aí que os dias começam), quando uma senhora muito doce, dona de um poodle que estava à beira do abismo, foi para a clínica para mais uma sessão de fluidoterapia.
Aviso, de antemão, que pseudônimos serão utilizados aqui para poupar a identidade dos clientes.
Enquanto colocava o Nick no soro, a Dona Marizete, simpatizando com meu semblante (de santa, deve ser, dado o rosário que ela desfiou) começou a me contar a trágica história da sua vida: viúva do namorado com quem viveu 8 anos, estava travando uma luta com o INSS para obter o direito à receber a pensão do cujo, uma vez que ele e ela, foram em cartório assinar a Certidão de União Estável, para que, na época, ela tivesse direito ao plano de saúde do seu companheiro. Contou também (para ver se eu me compadecia e não cobrava a sessão de fluidoterapia) que a sua ex nora, grávida de cinco meses e segundo ela, uma peste, estourou seu cartão do supermercado e agora, pra não ter seu nome no SPC vai ter que pagar a dívida da ex nora peste.
E nada do soro acabar...

Terminada a sessão de psico-fluidoterapia do Nick, e ao término de uma cirurgia, bate na porta um simpático cidadão com uma festiva e florida bermuda amarelo ovo, descalço e com uma brilhante barriga caindo sobre a bermuda alegre.
"-Pois não? Posso ajudar? - Ai Dra, estou doente, preciso ser atendido!" (piadinha clássica e obviamente sem graça)
Vamos até a casa do festivo homem. Chegando lá, uma pinguela pra atravessar e chegar até a porta. Na porta uma barricada, feita de ripas de compensado, separava as suas cadelas da entrada da casa.
Entrando na casa, o homem avisa: "mãe, estamos aqui com a Dra.
E uma senhora usando fraldas geriátricas, camiseta e chinelos vem à porta de seu quarto. "-Não, mãe, é a Dra das cachorras, não é pra senhora!"
Enquanto a cadelinha era sedada, o homem senta-se no chão, me pede pra tirar o celular dele do carregador que está na tomada atrás de mim e inicia um telefonema: "Ruth, desmarca o paciente de agora, não vou poder atender, e o das 15:30 também. Separa os papéis da prefeitura pra eu assinar, é Ruth, os azuis.. na mesinha da minha sala... isso... achou? Então deixa lá, que eu assino quando chegar."
Depois do telefonema e de gritar muitos "p$rras e c#$#lhos" pra segurar a cadelinha que fazia força pra não ser sedada, o fonoaudiólogo colorido se acalmou e, após uns segundos de conversa, me deu seu cartão e ofereceu a primeira consulta gratuita para o tratamento da minha ATM.

De volta à clinica, toca o interfone: "-Oi, meu cachorro foi cruzar e há três dias que o pênis dele está pra fora e não quer entrar, o veterinário pode ir lá em casa ver?" "-Pode sim, qual o nome do Sr.?" "- Bira." "- Sr Bira, o carro não está aqui agora, então não vou poder fazer o atendimento imediatamente, mas me deixa o seu telefone e assim que o outro Dr. voltar com o carro nós vamos lá." "-Não, não quero que me telefonem!" "-Mas Sr Bira, se o Sr me der o seu telefone, eu posso ligar quando o carro estiver disponível, o Sr não perde viagem e vamos lá em seguida." "-Não, ninguém me liga!"(Vontade de dar na cara do Sr Bira)
Passado um par de horas, Sr Bira retorna e podemos, enfim, buscar seu companheiro, que teve sua primeira experiência romântica frustrada e desastrosa.

Com uma bolsa de gelo no pênis do pequeno amante frustrado e uma pinça em seu testículo para a retirada de inúmeras pequenas larvas de mosca, muito concentrada e atenta para não levar uma rajada certeira de pipi no meio dos olhos, escuto um barulho seco vindo da mesa do consultório: pow!

Oswaldo, o colega de profissão, que fazia tarefas burocráticas ao meu lado, me olha:
"-C.%$¨lho! Que isso Carol?"
E uma coisinha gorda, fofa, limpando a cara com as patinhas, nos olha atentamente: "-Um rato! Hahaha, que lindo!"
O colega, tomado pelo asco, grita histérico: "-Que lindo é o c#$%te! Ana, Anaaa!! Trás uma vassoura!"
E eis que surge Ana, a tosadora, com um rodo de 3 x 3m: "-Não, Ana, não mata! Não mata!"
Mas Ana tira a vida do pobre rato, que tem como único pecado ser feio, e transmissor de mil e umas doenças para animais e seres humanos (como se o homem não transmitisse nenhuma).
De onde o ratinho surgiu eu não sei. A única imagem que tenho é a de um vulto marrom, surgindo como o carro do filme "De volta para o futuro", atravessando o céu do consultório e caindo na mesa...

Passado o susto, pênis do cachorro congelado, cachorro medicado, no canil, cobertor, liga o aquecedor, apaga a luz...

Luzes apagadas, portas e janelas trancadas e fim do expediente de uma pacata dupla de médicos veterinários.

5 comentários:

Nambu disse...

conforme comentei no msn, isso mais parece uma adaptação do sitcon "Scrubs" para o canal Animal Planet...kkk
hilarius! bizarre!

Unknown disse...

hahaha, morico...otemeo seu post!
mas acho que abandonaram esse blog...só p/ vc msmo!!!
adoro!
beijosss

Xuxudrops disse...

Hilário!=D
E vc tem a profissão que eu pedi à Deus mas o vesibular não me concedeu! =P

Carol Rabello disse...

Então ... sou a ultima remanescente... rs

Carol Rabello disse...

Não precisa ser Vet pra ser pobre... ops, pra mexer com bichos... e nos dias de hoje, pensando bem, de médico, veterinário e louco há que se ter um pouco.