Há dias em nossas vidas que são muito peculiares.
Eu poderia afirmar que ontem foi um desses dias...
Começou pela manhã (ah sim, até onde sei, é por aí que os dias começam), quando uma senhora muito doce, dona de um poodle que estava à beira do abismo, foi para a clínica para mais uma sessão de fluidoterapia.
Aviso, de antemão, que pseudônimos serão utilizados aqui para poupar a identidade dos clientes.
Enquanto colocava o Nick no soro, a Dona Marizete, simpatizando com meu semblante (de santa, deve ser, dado o rosário que ela desfiou) começou a me contar a trágica história da sua vida: viúva do namorado com quem viveu 8 anos, estava travando uma luta com o INSS para obter o direito à receber a pensão do cujo, uma vez que ele e ela, foram em cartório assinar a Certidão de União Estável, para que, na época, ela tivesse direito ao plano de saúde do seu companheiro. Contou também (para ver se eu me compadecia e não cobrava a sessão de fluidoterapia) que a sua ex nora, grávida de cinco meses e segundo ela, uma peste, estourou seu cartão do supermercado e agora, pra não ter seu nome no SPC vai ter que pagar a dívida da ex nora peste.
E nada do soro acabar...
Terminada a sessão de psico-fluidoterapia do Nick, e ao término de uma cirurgia, bate na porta um simpático cidadão com uma festiva e florida bermuda amarelo ovo, descalço e com uma brilhante barriga caindo sobre a bermuda alegre.
"-Pois não? Posso ajudar? - Ai Dra, estou doente, preciso ser atendido!" (piadinha clássica e obviamente sem graça)
Vamos até a casa do festivo homem. Chegando lá, uma pinguela pra atravessar e chegar até a porta. Na porta uma barricada, feita de ripas de compensado, separava as suas cadelas da entrada da casa.
Entrando na casa, o homem avisa: "mãe, estamos aqui com a Dra.
E uma senhora usando fraldas geriátricas, camiseta e chinelos vem à porta de seu quarto. "-Não, mãe, é a Dra das cachorras, não é pra senhora!"
Enquanto a cadelinha era sedada, o homem senta-se no chão, me pede pra tirar o celular dele do carregador que está na tomada atrás de mim e inicia um telefonema: "Ruth, desmarca o paciente de agora, não vou poder atender, e o das 15:30 também. Separa os papéis da prefeitura pra eu assinar, é Ruth, os azuis.. na mesinha da minha sala... isso... achou? Então deixa lá, que eu assino quando chegar."
Depois do telefonema e de gritar muitos "p$rras e c#$#lhos" pra segurar a cadelinha que fazia força pra não ser sedada, o fonoaudiólogo colorido se acalmou e, após uns segundos de conversa, me deu seu cartão e ofereceu a primeira consulta gratuita para o tratamento da minha ATM.
De volta à clinica, toca o interfone: "-Oi, meu cachorro foi cruzar e há três dias que o pênis dele está pra fora e não quer entrar, o veterinário pode ir lá em casa ver?" "-Pode sim, qual o nome do Sr.?" "- Bira." "- Sr Bira, o carro não está aqui agora, então não vou poder fazer o atendimento imediatamente, mas me deixa o seu telefone e assim que o outro Dr. voltar com o carro nós vamos lá." "-Não, não quero que me telefonem!" "-Mas Sr Bira, se o Sr me der o seu telefone, eu posso ligar quando o carro estiver disponível, o Sr não perde viagem e vamos lá em seguida." "-Não, ninguém me liga!"(Vontade de dar na cara do Sr Bira)
Passado um par de horas, Sr Bira retorna e podemos, enfim, buscar seu companheiro, que teve sua primeira experiência romântica frustrada e desastrosa.
Com uma bolsa de gelo no pênis do pequeno amante frustrado e uma pinça em seu testículo para a retirada de inúmeras pequenas larvas de mosca, muito concentrada e atenta para não levar uma rajada certeira de pipi no meio dos olhos, escuto um barulho seco vindo da mesa do consultório: pow!
Oswaldo, o colega de profissão, que fazia tarefas burocráticas ao meu lado, me olha:
"-C.%$¨lho! Que isso Carol?"
E uma coisinha gorda, fofa, limpando a cara com as patinhas, nos olha atentamente: "-Um rato! Hahaha, que lindo!"
O colega, tomado pelo asco, grita histérico: "-Que lindo é o c#$%te! Ana, Anaaa!! Trás uma vassoura!"
E eis que surge Ana, a tosadora, com um rodo de 3 x 3m: "-Não, Ana, não mata! Não mata!"
Mas Ana tira a vida do pobre rato, que tem como único pecado ser feio, e transmissor de mil e umas doenças para animais e seres humanos (como se o homem não transmitisse nenhuma).
De onde o ratinho surgiu eu não sei. A única imagem que tenho é a de um vulto marrom, surgindo como o carro do filme "De volta para o futuro", atravessando o céu do consultório e caindo na mesa...
Passado o susto, pênis do cachorro congelado, cachorro medicado, no canil, cobertor, liga o aquecedor, apaga a luz...
Luzes apagadas, portas e janelas trancadas e fim do expediente de uma pacata dupla de médicos veterinários.
quinta-feira, maio 07, 2009
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5 comentários:
conforme comentei no msn, isso mais parece uma adaptação do sitcon "Scrubs" para o canal Animal Planet...kkk
hilarius! bizarre!
hahaha, morico...otemeo seu post!
mas acho que abandonaram esse blog...só p/ vc msmo!!!
adoro!
beijosss
Hilário!=D
E vc tem a profissão que eu pedi à Deus mas o vesibular não me concedeu! =P
Então ... sou a ultima remanescente... rs
Não precisa ser Vet pra ser pobre... ops, pra mexer com bichos... e nos dias de hoje, pensando bem, de médico, veterinário e louco há que se ter um pouco.
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